do privilégio

esta cena do discurso do ‘privilégio’ anda-me a foder a cabeça. claro que é importante reconhecermos que temos vidas diferentes também dependendo de discriminações e diferenciações estruturais. A vida de uma negra não é igual à de um branco; nem a de um trans pobre à de uma cis de classe média.

mas tem de haver forma de falarmos sobre isto sem usar o discurso do privilégio, já por si de cunho tão meritocrata. é que eu só vejo uma amiga não binária a dizer se privilegiada por não ser negra, um amigo a fazer 40h extraordinárias numa semana a rebaixar-se pela sorte de ter contracto e um salário de 600€, e uma enorme comunidade de vigilância que a cada queixa vem dizer: pára de chiar que podias estar pior. Por vezes o privilégio é só o novo ‘e os pretinhos em África que passam fome?’.

Entre estas e outras, a narrativa não atinge de todo quem devia, e só despotencia quem de facto atinge. Transforma-se num mecanismo de inércia e de incapacitação.  E eu fico pendurada a perguntar se não arranjamos uma crítica que mexa com a vida sem virar logo auto-rebaixamento.